sexta-feira, 1 de junho de 2007

Às favas, a lousa e o giz.

Existe uma campanha do CPP (Centro de Professorado Paulista), um dos sindicatos dos professores do Estado de São Paulo, dizendo “Educação tem cura, consulte um professor!”. Acho a idéia da campanha inteligente, afinal, elevam a figura do professor, porém, conhecendo o monstro por dentro, vejo que as coisas não são bem assim.

Para quem não sabe, sou professor de História e há mais de um ano leciono na mesma escola estadual de São Paulo. Até aí, tudo bem! Quer dizer, mais ou menos, afinal, será esse um tema recorrente nesse blog, pois problemas sobram...

Todos sabemos que a educação do Estado de São Paulo (e de todo o Brasil), vai muito mal dos braços – as pernas já foram amputadas – e as alternativas para que isso mude, não existem. Pelo menos nunca ouvi falar. A não ser palpites, pois todos adoram meter o bedelho na educação, como se fosse uma feira livre, onde se aperta o pepino e sabe-se da qualidade do produto. Se da parte do governo, o pepino, digo, esse sistema educacional em que caminhamos é o mais correto, da parte dos professores, esse sistema necessita ser transformado. Pois é, ai mora o engano: sistemas equivocados não se transformam, sistemas equivocados precisam ser destruídos. Substituídos por outros?! Sim. Um mais correto e mais humano. A mais, professores acabam sendo moscas num prato de sopa, se debatendo para não morrerem afogados, ao mesmo tempo em que acreditam estarem se alimentando do prato em que estão mergulhados, deslumbrando-se com alegrias efêmeras.

Desculpem-me os otimistas, mas não existe aprendizagem de qualidade para turmas com 40 pessoas (quando não mais), numa sala de aula. Não existe educação de qualidade com pressão de todos os lados em cima do professor. Não existe educação escolar, quando a sociedade está destruída em todos os sentidos. Fora o salário e todo o resto de problemas... Pessimismo?! Não. Realismo. Compartilho da mesma idéia do Nobel de literatura José Saramago: “Não sou pessimista, o mundo que é péssimo!”.

Como se não bastasse tudo, a desunião entre os professores é uma coisa incômoda. A falsidade, então, chega às raias do insuportável. O chamado “leva-e-traz”, aquelas pessoas que vão de um canto para outro, contando, aumentando e inventando histórias dentro de uma escola, ainda mais fazendo parte do quadro de professores, é a coisa mais impensável para quem está de fora, afinal, a escola guarda, por pior que tudo esteja, uma certa aura de religiosidade, que, para quem está lá dentro, acabou transformando-se no pátio de uma reles seita. Tal comportamento repugnante por parte de certos professores, me fazem pensar que são doentes, ou caminham para isso, deixando Freud, se este estivesse vivo, perto da descoberta de uma nova psicanálise.

“Educação tem cura, consulte um professor”?! Acho melhor consultar outro profissional. O sistema em que se encontram os educadores – e aí eu me incluo, claro! – já não possibilita mais que acreditemos que a categoria saiba o que faz. Salve-se quem puder!!! Não creiamos mais que o que temos em nossas mãos é aquela beleza idealizada do tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles, onde se educava apenas quem queria e a relação entre os mestres se davam na base do diálogo. Hoje, isso não existe! Diálogo? Sobram apenas burocratas educacionais, ou seja, pessoas com diplomas, responsáveis por preencher papéis e mais papéis, prestando contas do desserviço feito à gerações e gerações para órgãos internos e externos de economia.

Desculpem-me o ar de desabafo, mas está na hora de percebermos que a crise está instalada em todos os âmbitos da sociedade, inclusive na área educacional, e não serão só campanhas que aumentaram a auto-estima do professor, mas uma mudança real que tem que começar no seio da nossa sociedade. Incompetentes, sempre haverá, eu sei. Mas estes, unidos a acomodados, fazem com que reine a mediocridade dentro das nossas instituições de ensino. Enquanto tal tempo não chega, com ares messiânicos termino esta breve verborragia, citando os versos de uma música que em outros tempos guiavam Chico Buarque e Maria Bethânia, incrivelmente atual: “A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando, essa vida!”.



Angeli, Folha de S.Paulo - 06 de março de 2007

9 comentários:

Fells disse...

Olha, eu ainda acho que professores e tudo isso não tem mto a ver se o aluno não se esforçar, não. Eu escrevi um post sobre educação.
Então, nãoa cho que a escola tenha grande importância,acho mesmo que a galera tem que aprender a se virar sozinha. bjo

Unknown disse...

Fells,
sem dúvida!
Também acredito nisso. Aliás, esse é o idela de educação na antiguidade. No mundo contemporâneo, infelizmente, se mede a quantidade e não a qualidade. Logo, enfiam-se alunos na escola, que não estão nem aí pra nada. Mas tudo bem! O ser humano é um bicho estranho e, só quando a água bate na bunda, aprende-se a nadar!
Bjo

Unknown disse...

Nilton grata pelo convite! Lí, gostei e indiquei o seu blog para amigas professoras.
A dica sobre educação que te falei por mail, está no livro (só achei em inglês a referência mas deve haver em português): Education in the New Age
Author: Alice A. Bailey
Publisher:
ISBN: 9780853301059 . Sobre as idéias dela em educação estão claras em:
http://bernie.cncfamily.com/spi/bailey/
Vc escolhe o tema (education) na listagem lateral à esquerda na página, e aparecem todas as suas principais idéias no tema. Parabéns e Boa Sorte, Daniela

Unknown disse...

Complementando... o link do livro:http://www.smarter.com/education_in_the_new_age---pd--ch-1--pi-509694.html

Unknown disse...

Só para entenderem, seguem os e-mails que a Daniela me enviou:

Nilton obrigada pelo convite concordo contigo o atual sistema deve ser
destruído mesmo, não tem como transformar, está no seu "ponto de
mutação", decadência absoluta.
Vc já leu sobre a educação da nova era? Há um livro interessante não
me recordo se é da Annie Besant ou da Alice Bailey aonde se fala sobre
como será a educação do "futuro".
Um grande abraço e longa vida ao seu blog!
Daniela

Unknown disse...

Acrescento aqui apenas um website ao qual eu recorrí e recorro sempre
que preciso desses livros, é completíssimo:
http://www.hinduwebsite.com/
Nele você encontra e-texts, livros gratuitamente sobre vários temas,
incluindo educação, psicologia e filosofia ( my search). É uma super
dica, ok?
E boa sorrrrrrrte. Força.
Daniela

Regina disse...

Esta é a realidade do ensino brasileiro, eu concordo com tudo , assino embaixo, pois é exatamente o que sinto...eu tbém sou professora
parabéns pelo seu comentário audacioso e corajoso!

Anônimo disse...

Partilho, partilho muito disso tudo o que vc diz. Tb sofro numa sala de aula com mais de 30, tentando dar aulas de música. Eu desisti de trabalhar com Fundamental 2... isso é inviável - música nesse ciclo com tanta gente junta e uma escla achando que arte é produto de apresentação e marketing... Concordo, Nilton, gênero, número e grau.
bjos.
Ana Estachiote Mantuano

Anônimo disse...

Sr.Nilton, boa tarde.
Compartilho com o seu protesto. Seremos o único país neste planeta onde teremos "analfabetos" diplomados de advogados, doutores, juízes, e por ai vai...
Parabéns pela sua lógica e linha de raciocínio.
Reafirmo que você é uma MENTE BRILHANTE.
Sucesso!!!!
Alessandro Trovato