domingo, 21 de outubro de 2007

Jura Secreta

Certa vez, numa conversa sobre MPB com uma amiga, a Fabiana Portela (fã incondicional de Maria Bethânia), eu disse que Simone, para mim, era como se fosse uma amante. Por quê? - perguntou ela, no que eu respondi: adoro, mas não assumo!

Durante muitos anos de minha vida, eu tive esse problema com relação à Cigarra. Sempre que dava, eu ia na loja, comprava seu lançamento e ouvia em casa ininterruptas vezes, mas na hora de dizer para um amigo sobre uma cantora que eu curtia, Simone nunca entrava na lista. Preconceito? Com certeza.

“SÉRÁÁÁ só imaginação?”
Simone sempre ficou atrelada a um tipo de música chamado de “mela-cueca”, devido seu caráter extremamente romântico e meloso - às vezes até erótico. Seu forte sotaque baiano, parecendo até forçado, ajudava na minha falta de coragem em assumí-la como uma das artistas de minha preferência.

No entanto, no último final de semana, tive a oportunidade de assistir aos dois dias de show Amigo é casa”, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, onde Simone e Zélia Duncan gravaram o CD e o DVD que em breve (torço por isso) sairão pela Biscoito Fino.

Cansei de dizer que iria no show por causa da Zélia, pois todos sabem o quanto eu admiro o seu trabalho, porém, no fundo, ia também por causa de Simone, pois nunca tinha visto a baiana ao vivo. Então assisti ao show. E que show!

Zélia dispensa comentários, mesmo porque, vindo de mim, seria redundância. Estava linda e com uma voz (e memória – sobretudo em “A Companheira”) afinadíssima. Mas e Simone? Bom, Simone estava um espetáculo à parte: voz, interpretação, roupa, corpo e esbanjando simpatia no palco, e nem precisou ficar nua pra chamar nossa atenção! risos

Vi muita gente entrando lá com uma idéia de Simone, e saindo com outra totalmente diferente. Isso se concretizou, para mim, na noite do dia 13 de outubro, quando ela foi ovacionada por mais de um minuto. O público levou a artista às lágrimas. Porém, depois do show, ainda sentia o preconceito resistindo no ar. Não acho que todos que estavam ali deviam ter saído adorando a Simone, porém, deviam respeitar (e muito) a artista que ela é e sua trajetória na nossa música -falo isso, pois ouvi alguns comentários nem um pouco agradáveis... bom, num país onde a cultura não é valorizada, não é de se admirar que há pessoas que entrem num show, sem nem querer saber um pouquinho da história de quem está ali no palco.

“Começar de novo”
No dia seguinte, coloquei pra tocar todos os discos antigos da Cigarra que eu tenho, e descobri uma Simone que nunca havia percebido. Pesquisei sobre os outros discos dela (antigos também) na internet, mas nada de conseguir comprar. Foi aí que entrei em contato com um moderador da comunidade da Simone e cogitei um abaixo-assinado sobre a sua discografia (parecidos com os que teve na comunidade da Maria Bethânia e que existe na do Ney Matogrosso, no orkut). Ele, então, mexeu seus pauzinhos e agora estamos na expectativa de boas notícias... SÉRÁ?

Simone e sua música, antes mesmo do disco “25 de Dezembro”, que vendeu mais de um milhão de cópias em um mês, em meados da década de 90, já fazia parte da minha trilha sonora. Mas só hoje sou capaz de dizer que sou um admirador dela e de suas interpretações. Talvez, porque, por mais que um disco grave e eternize a voz de um cantor, nada irá substituir a magia do palco, onde, no diálogo com o público, na descoberta (ou na redescoberta) de quem vê um artista ali em cima, de fato, qualquer preconceito vai por terra.

Se dêem a chance. Se dêem ao luxo.

Nilton