quinta-feira, 28 de junho de 2007

Sem comentários...

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto"
Rui Barbosa, profetizando o Brasil de hoje.


"Uivemos, disse o cão"
José Saramago, Ensaio sobre a lucidez


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sábado, 9 de junho de 2007

Dentro do arco-íris...

São Paulo realiza neste dia 10 de junho a sua 11º Parada do Orgulho GLBT, mais conhecida como Parada Gay. Nesta época de maior parada do mundo, a cidade veste as cores do arco-íris. Precisa ser muito insesível para não sentí-las.
Divulgo um texto de Luiz Caversan que saiu publicado hoje na Folha de S.Paulo. O texto fala por si só.

09/06/2007
Orgulho de ser o que é

Minha mãe não sabe, se soubesse ia chorar muito. Meu pai? Me mataria muito! Quer dizer, me mataria, porque matar é matar, muito ou pouco, não importa. Meu irmão desconfia, porque já tentou duas vezes dar em cima de amigas minhas e se deu mal, elas não estavam nem aí com ele. Já comigo...

Fui sempre assim, e tem gente que ainda fala que é uma "opção". Opção a gente opta, e eu nunca optei por gostar de mulher. Apenas gosto. E não gosto só de sacanagem, não, é gostar do carinho, do afeto, entende?, da alegria que elas têm e que eu tenho, da vontade de ficar juntas, da amizade e da solidariedade, do bom caráter, porque mau caráter pode ser gay, lésbica ou macho pacas que eu quero distância...

Meu pai e minha mãe, que são "normais", estão juntos há 40 anos e são absolutamente infelizes, de que adianta essa normalidade e esse estar certo hipócrita?

Se é assim, eu estou errada mesmo e pronto, dane-se.

Agora é mais fácil, as coisas evoluíram e embora ainda tenha muita gente ignorante que faz questão de não entender, de achar que é pura promiscuidade e malandragem, muitas outras pessoas entendem ou pelo menos nos aceitam. A mim têm que aceitar mesmo, porque eu sou independente, bem sucedida profissionalmente e, modéstia à parte, muito bonita --você não acha?

Não sou masculinizada, ao contrário me considero bem feminina, mas tenho amigas tipo "caminhoneira" que no fundo são uns doces, assim como há muito homem bruto pra fora e extremamente sensível por dentro. Mas essas amigas tipo "mulher macho" também não são assim porque querem, são porque são, oras. Exageros? Claro que tem exagero. Quanto tempo essas moças foram reprimidas, hostilizadas, segregadas? No fundo tentam compensar anos e anos de preconceito. Mas o que você tem a dizer sobre esses caras tipo pitboys, bombados e tatuados? E as peruas botocadas e vestidas com grife dos pés à cabeça e que dão em cima de garotões nos bares da vida? Não são exageradas também?

Meu caro, a vida é curta, curta a vida, viva e deixe viver, como se dizia na Bahia anos atrás. Vai amanhã lá na Pagada Gay pra ver que lindo. Serão milhares de pessoas exibindo sua alegria de viver --e otras cositas más, mas e daí, os heteros não exibem quase tudo no Carnaval e na praia e ninguém não está nem aí?

Ficar chocado não vai ajudar a entender.

Aliás, não há muito o que entender, porque o processo de entendimento está em pleno processo, sacou?

E o mais importante agora é a consciência de a gente ser o que é e, ao invés de vergonha, ter orgulho de ser. Tenho orgulho de ser uma homossexual feminina e acho sinceramente que se os homens heteros tivessem orgulho de serem assim e as mulheres também, esse mundo seria muito, muito melhor.

(Depoimento de uma amiga linda e absolutamente resolvida, que veio a São Paulo para, com muito orgulho, participar da Parada Gay)


Luiz Caversan, 50, é jornalista. Foi repórter especial, diretor da Sucursal do Rio da Folha e editor do caderno TV Folha. Escreve crônicas sobre cultura, política e comportamento aos sábados para a Folha Online. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult513u303107.shtml

terça-feira, 5 de junho de 2007

O mundo Pré-pós-tudo de Zélia Duncan... e meu também!


Domingo, 03 de junho de 2007, SESC Pinheiros.

Pela quarta vez, acompanhei um show da turnê Pré-pós-tudo-bossa-band, de Zélia Duncan. Dessa vez, eu fui assistir, com um sabor diferente, o lançamento do DVD homônimo. DVD este, gravado e acompanhado por mim, também aqui em São Paulo, em outro teatro, o do Auditório Ibirapuera, dia 18 de novembro de 2006.

Zélia Duncan apareceu na minha vida há cerca de dois anos. Antes, eu já havia escutado falar nela, cantado seus sucessos radiofônicos "Catedral", "Alma", "Enquanto durmo" etc., porém, nunca tinha parado para escutar suas idéias através das músicas e, tampouco, me lembro de ter acompanhado uma matéria sobre sua carreira, seja no rádio, tv, revistas ou jornais.

Há dois anos, no entanto, a cantora revelou-se para mim numa entrevista concedida para o extinto programa "Dois a um", apresentado por Mônica Waldvogel, em que ela divida a bancada com Ney Matogrosso. Fui atrás de Ney e encontrei Zélia. No dia seguinte, estupefato com aquela artista que, durante vários momentos disse exatamente o que eu pensava e sentia na época, me levou a buscar seus discos, escutá-los, ouvir o que ela tinha para dizer.

O cd que me caiu nas mãos de cara foi o Eu me transformo em outras - o sexto trabalho da carreira, que havia começado como Zélia Cristina, e que, agora, bancado pela própria artista, multifacetava seu repertório, resgatando canções da década de 30, 40 e 50, mesclando-as a compositores contemporâneos, como Luiz Tatit, Tom Zé e Itamar Assumpção. O disco, na minha opinião, é um clássico. Me arrebatou imediatamente.

Porém, este não era mais seu disco de trabalho. Na ocasião, ela já estava mergulhada no projeto Pré-pós-tudo-bossa-band. Vinha para São Paulo para divulgá-lo e lá estava eu na fila do ingresso da casa de shows Tom Brasil, já tendo comprado todos os discos da carreira em apenas um mês. Estava tendo overdose de Zélia Duncan, como se nesse pequeno espaço de tempo, eu pudesse resgatar o espaço de quase 25 anos de carreira dela, perdidos nos meus quase 25 de idade.

O Show, como o cd, foi também arrebatador. Numa linguagem moderna, num visual onde, apesar das cores fortes, possuía um ar meio dark, com um repertório que mesclava a sensação de sentar e pensar com a de levantar e pular, e gritar, o show se fazia. Durante esses quase dois anos da turnê, o show ainda se faz.

Como se não bastasse tudo, Zélia, como diz quase todos os seus admiradores, é a cantora mais fofa do universo, com uma simpatia impar, capaz de amolecer os corações mais duros. Ela joga com todo o potencial: inteligência, sensualidade, bom humor, mas essencialmente demonstra paixão pelo que faz.

Hoje, quase dois anos depois, acredito que sou incapaz de fazer uma crítica da sua obra sem ser imparcial. Estou mergulhado com a alma no seu trabalho. Se me perguntarem isso ou aquilo dela, digo que é ótimo e ponto final. Sua obra me completa. Foi Zélia que me apresentou Itamar Assumpção e me levou a conhecer melhor a obra de Ná Ozzetti, Alzira Espíndola, Alice Ruiz, Paulo Leminski, Luiz Tatit, Zé Miguel Wisnik etc.. Foi Zélia que me aproximou de uma das minhas melhores amigas, a Karina, e me fez conhecer um outro tanto de gente muito bacana que curte e respeita muito sua obra. Foi com Zélia que surgiu uma outra grande paixão na minha vida, a maior de todas, made in Rio, que me ajudou, inclusive, a entender melhor seu trabalho. Foi com Zélia que me transmutei em outros, me transbordei em outros e me transformei em outros. E com ela também me tornei um mutante, quando, a despeito de tudo e de todos, ela me mostrou que ousar é necessário.

Seu DVD Pré Pós Tudo Bossa Band - O Show sai financiado pelo seu selo, Duncan Discos - criado na época do Eu me transformo. É um show lindo, com participação de Hamilton de Holanda e Anelis Assumpção, que vem sendo hiper bem recebido pela crítica e pelo público. Mais um clássico pop que, tenho certeza, como todo clássico, será louvado daqui a algumas gerações.

Enfim, se você que ler isto ainda não conhece Zélia Duncan, vá atrás. Dispa-se dos preconceitos dos sucessos radiofônicos. Zélia Duncan é muito mais que um ou dois sucessos. É um exemplo do que é fazer arte no mundo pré-pós-tudo.

Depois que Vinícius e eu dissemos que estávamos presentes na gravação do DVD, ela intuiu nossa história e minha história com ela e escreveu: "Esse é nosso!". Talvez seja mesmo...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Às favas, a lousa e o giz.

Existe uma campanha do CPP (Centro de Professorado Paulista), um dos sindicatos dos professores do Estado de São Paulo, dizendo “Educação tem cura, consulte um professor!”. Acho a idéia da campanha inteligente, afinal, elevam a figura do professor, porém, conhecendo o monstro por dentro, vejo que as coisas não são bem assim.

Para quem não sabe, sou professor de História e há mais de um ano leciono na mesma escola estadual de São Paulo. Até aí, tudo bem! Quer dizer, mais ou menos, afinal, será esse um tema recorrente nesse blog, pois problemas sobram...

Todos sabemos que a educação do Estado de São Paulo (e de todo o Brasil), vai muito mal dos braços – as pernas já foram amputadas – e as alternativas para que isso mude, não existem. Pelo menos nunca ouvi falar. A não ser palpites, pois todos adoram meter o bedelho na educação, como se fosse uma feira livre, onde se aperta o pepino e sabe-se da qualidade do produto. Se da parte do governo, o pepino, digo, esse sistema educacional em que caminhamos é o mais correto, da parte dos professores, esse sistema necessita ser transformado. Pois é, ai mora o engano: sistemas equivocados não se transformam, sistemas equivocados precisam ser destruídos. Substituídos por outros?! Sim. Um mais correto e mais humano. A mais, professores acabam sendo moscas num prato de sopa, se debatendo para não morrerem afogados, ao mesmo tempo em que acreditam estarem se alimentando do prato em que estão mergulhados, deslumbrando-se com alegrias efêmeras.

Desculpem-me os otimistas, mas não existe aprendizagem de qualidade para turmas com 40 pessoas (quando não mais), numa sala de aula. Não existe educação de qualidade com pressão de todos os lados em cima do professor. Não existe educação escolar, quando a sociedade está destruída em todos os sentidos. Fora o salário e todo o resto de problemas... Pessimismo?! Não. Realismo. Compartilho da mesma idéia do Nobel de literatura José Saramago: “Não sou pessimista, o mundo que é péssimo!”.

Como se não bastasse tudo, a desunião entre os professores é uma coisa incômoda. A falsidade, então, chega às raias do insuportável. O chamado “leva-e-traz”, aquelas pessoas que vão de um canto para outro, contando, aumentando e inventando histórias dentro de uma escola, ainda mais fazendo parte do quadro de professores, é a coisa mais impensável para quem está de fora, afinal, a escola guarda, por pior que tudo esteja, uma certa aura de religiosidade, que, para quem está lá dentro, acabou transformando-se no pátio de uma reles seita. Tal comportamento repugnante por parte de certos professores, me fazem pensar que são doentes, ou caminham para isso, deixando Freud, se este estivesse vivo, perto da descoberta de uma nova psicanálise.

“Educação tem cura, consulte um professor”?! Acho melhor consultar outro profissional. O sistema em que se encontram os educadores – e aí eu me incluo, claro! – já não possibilita mais que acreditemos que a categoria saiba o que faz. Salve-se quem puder!!! Não creiamos mais que o que temos em nossas mãos é aquela beleza idealizada do tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles, onde se educava apenas quem queria e a relação entre os mestres se davam na base do diálogo. Hoje, isso não existe! Diálogo? Sobram apenas burocratas educacionais, ou seja, pessoas com diplomas, responsáveis por preencher papéis e mais papéis, prestando contas do desserviço feito à gerações e gerações para órgãos internos e externos de economia.

Desculpem-me o ar de desabafo, mas está na hora de percebermos que a crise está instalada em todos os âmbitos da sociedade, inclusive na área educacional, e não serão só campanhas que aumentaram a auto-estima do professor, mas uma mudança real que tem que começar no seio da nossa sociedade. Incompetentes, sempre haverá, eu sei. Mas estes, unidos a acomodados, fazem com que reine a mediocridade dentro das nossas instituições de ensino. Enquanto tal tempo não chega, com ares messiânicos termino esta breve verborragia, citando os versos de uma música que em outros tempos guiavam Chico Buarque e Maria Bethânia, incrivelmente atual: “A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando, essa vida!”.



Angeli, Folha de S.Paulo - 06 de março de 2007

Mais uma vez...

Cansado de criar blogs que nunca saem da primeira semana de postagens, resolvi fazer algo na internet: criar mais um blog!!! rs

Mas esse, diferente dos outros que dei vida, pretende ir mais além, tanto da primeira semana de criação, como do ideal dos demais. A diferença começa pelo nome "Abobrinhas, não". Inspirado no título da canção do eterno Itamar Assumpção e da interna Alice Ruiz, pretendo fazer desse espaço o meu lugar, dando uma resposta ao mundo que está cheio de abobrinhas. Aqui, não! - Quer dizer, de vez em quando, falemos abobrinhas, afinal, não sou de ferro!!! rs. Mas, convenhamos, está na hora de escutarmos também o agrião, a escarola, a rúcula, trocando em miúdos (ou seria em papoulas?), está na hora do diferente, do original, do anárquico, do inusitado, dos
outros mundos e dos universos paralelos.

Você gosta do que vê por aí?! Eu não. E se quiser, chega junto: Abobrinhas, não!
Nilton

Na foto, Alice Ruiz e Itamar Assumpção

Abobrinhas não
Itamar Assumpção e Alice Ruiz

Cansei de ouvir abobrinhas,
vou consultar escarolas
prefiro escutar salsinhas,
pedir consolo às papoulas
e às carambolas,
pedir um help ao repolho
indagar umas espigas,
aprender com pés de alho
ouvir dicas das urtigas
e dessas tulipas
um toque pro miosótis,
um palpite do alpiste
uma luz da flor de lótus,
pedir alento ao cipreste
e pra dama da noite,
pedir conselho à serralha
sugestão pro almeirão,
idéias para azaléias
opinião para o limão, pimentão
abobrinhas não