Domingo, 03 de junho de 2007, SESC Pinheiros.Pela quarta vez, acompanhei um show da turnê Pré-pós-tudo-bossa-band, de Zélia Duncan. Dessa vez, eu fui assistir, com um sabor diferente, o lançamento do DVD homônimo. DVD este, gravado e acompanhado por mim, também aqui em São Paulo, em outro teatro, o do Auditório Ibirapuera, dia 18 de novembro de 2006.
Zélia Duncan apareceu na minha vida há cerca de dois anos. Antes, eu já havia escutado falar nela, cantado seus sucessos radiofônicos "Catedral", "Alma", "Enquanto durmo" etc., porém, nunca tinha parado para escutar suas idéias através das músicas e, tampouco, me lembro de ter acompanhado uma matéria sobre sua carreira, seja no rádio, tv, revistas ou jornais.
Há dois anos, no entanto, a cantora revelou-se para mim numa entrevista concedida para o extinto programa "Dois a um", apresentado por Mônica Waldvogel, em que ela divida a bancada com Ney Matogrosso. Fui atrás de Ney e encontrei Zélia. No dia seguinte, estupefato com aquela artista que, durante vários momentos disse exatamente o que eu pensava e sentia na época, me levou a buscar seus discos, escutá-los, ouvir o que ela tinha para dizer.
O cd que me caiu nas mãos de cara foi o Eu me transformo em outras - o sexto trabalho da carreira, que havia começado como Zélia Cristina, e que, agora, bancado pela própria artista, multifacetava seu repertório, resgatando canções da década de 30, 40 e 50, mesclando-as a compositores contemporâneos, como Luiz Tatit, Tom Zé e Itamar Assumpção. O disco, na minha opinião, é um clássico. Me arrebatou imediatamente.
Porém, este não era mais seu disco de trabalho. Na ocasião, ela já estava mergulhada no projeto Pré-pós-tudo-bossa-band. Vinha para São Paulo para divulgá-lo e lá estava eu na fila do ingresso da casa de shows Tom Brasil, já tendo comprado todos os discos da carreira em apenas um mês. Estava tendo overdose de Zélia Duncan, como se nesse pequeno espaço de tempo, eu pudesse resgatar o espaço de quase 25 anos de carreira dela, perdidos nos meus quase 25 de idade.
O Show, como o cd, foi também arrebatador. Numa linguagem moderna, num visual onde, apesar das cores fortes, possuía um ar meio dark, com um repertório que mesclava a sensação de sentar e pensar com a de levantar e pular, e gritar, o show se fazia. Durante esses quase dois anos da turnê, o show ainda se faz.
Como se não bastasse tudo, Zélia, como diz quase todos os seus admiradores, é a cantora mais fofa do universo, com uma simpatia impar, capaz de amolecer os corações mais duros. Ela joga com todo o potencial: inteligência, sensualidade, bom humor, mas essencialmente demonstra paixão pelo que faz.
Hoje, quase dois anos depois, acredito que sou incapaz de fazer uma crítica da sua obra sem ser imparcial. Estou mergulhado com a alma no seu trabalho. Se me perguntarem isso ou aquilo dela, digo que é ótimo e ponto final. Sua obra me completa. Foi Zélia que me apresentou Itamar Assumpção e me levou a conhecer melhor a obra de Ná Ozzetti, Alzira Espíndola, Alice Ruiz, Paulo Leminski, Luiz Tatit, Zé Miguel Wisnik etc.. Foi Zélia que me aproximou de uma das minhas melhores amigas, a Karina, e me fez conhecer um outro tanto de gente muito bacana que curte e respeita muito sua obra. Foi com Zélia que surgiu uma outra grande paixão na minha vida, a maior de todas, made in Rio, que me ajudou, inclusive, a entender melhor seu trabalho. Foi com Zélia que me transmutei em outros, me transbordei em outros e me transformei em outros. E com ela também me tornei um mutante, quando, a despeito de tudo e de todos, ela me mostrou que ousar é necessário.
Seu DVD Pré Pós Tudo Bossa Band - O Show sai financiado pelo seu selo, Duncan Discos - criado na época do Eu me transformo. É um show lindo, com participação de Hamilton de Holanda e Anelis Assumpção, que vem sendo hiper bem recebido pela crítica e pelo público. Mais um clássico pop que, tenho certeza, como todo clássico, será louvado daqui a algumas gerações.
Enfim, se você que ler isto ainda não conhece Zélia Duncan, vá atrás. Dispa-se dos preconceitos dos sucessos radiofônicos. Zélia Duncan é muito mais que um ou dois sucessos. É um exemplo do que é fazer arte no mundo pré-pós-tudo.
Depois que Vinícius e eu dissemos que estávamos presentes na gravação do DVD, ela intuiu nossa história e minha história com ela e escreveu: "Esse é nosso!". Talvez seja mesmo...