
Dercy Gonçalves viveu mais de 100 anos. Ela é de um tempo em que diversão para as massas estava começando a existir. Viu e viveu todo advento da tecnologia e foi capaz, ainda lúcida, de participar da primeira transmissão em HD do SBT (emissora com quem tinha contrato vitalício) num dos quadros do programa Sílvio Santos que, diga-se de passagem, a adorava. Viu e viveu toda a política brasileira que se alternou entre democracias e ditaduras. Aliás, quando nasceu, nem as mulheres podiam votar e as atrizes eram consideradas prostitutas.
Com mais de 90 anos, Dercy colocou os seios pra fora e desfilou por toda a Marquês de Sapucaí. Encarei aquele gesto acidental (pois a culpa foi do vestido que conforme ela levantava os braços, os seios tentavam escapar) como uma feroz crítica: por um lado, àquelas meninas com o corpo escultural que dançavam nuas; por outro, que “esse negócio de idade não existe”, como tantas vezes a própria Dercy falou.

Esta senhora foi extremamente homenageada em vida por diversas emissoras, pelas mais diversas gerações de humoristas, atores, atrizes de rádio, de cinema, de teatro e de televisão, apresentadores de programas e animadores de auditório. Todos são categóricos em afirmar que ela serviu sempre como inspiração e tinham por esta senhora desbocada um profundo respeito.
Ary Fontoura disse hoje na Globo News que Dercy inventou o palavrão carinhoso. Dercy inventou mais! Foi a precursora, sem saber, do Rock’n Roll, cuspindo na platéia, dizendo que os jovens tem o direito de errar (quantas pessoas pensam assim?), jogava a bengala como um metaleiro quebra a guitarra e, convicta, aos 102 anos, dizia que seus palavrões não tinham nada demais: “palavrão não é Porra! Você veio de porra! Palavrão é fome!”. Também não seria demais afirmar que ela provavelmente foi o maior expoente do teatro do improviso no Brasil. Dercy era um gênio, pois sabia a pausa certa para colocar o palavrão e quando ele saia fazia todo mundo gargalhar.
Coloco aqui o link para dois vídeos e um de fotos de Dercy Gonçalves para os possíveis interessados:
Esta senhora foi um daqueles ícones que conheci criança e parecia que jamais iria morrer. Na tarde deste dia 19 de junho ela se foi. Quando contei pra minha mãe por telefone, ela fez uma pequena pausa e disse logo em seguida: “nossa, ela morreu!”. Espanto e compaixão eram percebidos na sua voz. Foi a mesma reação que eu vi com todos quando ficaram sabendo. Dercy sempre foi adorada!
Dercy não acreditava em Deus. Ou melhor, quando dizia Deus, se referia à Natureza. Não acreditava em vida após à morte, tinha a certeza de que sua energia apenas voltaria à natureza. Quando indagada se teria medo da morte, ela dizia: “Não tenho medo de morrer! Não tenho medo de viver!”. E Dercy Gonçalves viveu intensamente cada minuto de sua vida e escreveu seu nome na história da arte no Brasil.
Dercy não morreu, viverá pra sempre por aí. Pooorraaaa!!!!
Nilton Serra
3 comentários:
A Dercy trouxe para o povo brasileiro não apenas a irreverência e a liberdade, mas reinventou a função catártica do palavrão! Palavrão é a liberdade do expressar, Dercy era a liberdade de viver. Viveu contra as normas do tempo, da beleza e da lógica!
Muito bacana a sua homenagem! Dercy Gonçalves merece!!!
Abraços,
Vinnie
Dercy, nossa eterna!
O tempo passou, mas não arrancou de nóis brasileiro o amor por ela.
Ela foi brilhar no céu junto as nossos mais amados cantores.
a dercy era original, autêntica, não tinha medo.
abço.
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