quarta-feira, 4 de junho de 2008

Um dia como representante dos docentes.

Vejam a responsa que é lecionar:

No sábado foi a formatura do grupo do PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) lá na escola em que sou professor. Trocando em miúdos, a coisa consistia em 100 alunos (faltaram 60 alunos) das quatro sextas séries do colégio em receberem um diploma pelas dez aulas que foram ministradas por um soldado da Polícia Militar que conscientizava sobre os problemas das drogas, falando desde sua ação no organismo até problemas sociais.

Assisti a algumas aulas, e de fato, o cara mandava muito bem, sem preconceitos e churumelas!

Então, no sábado foi a formatura desses alunos, e eu fui escolhido pra representar os docentes. De última hora, escalado para, com meu terninho e um microfone na mão (tremo de lembrar! rs), fazer um discurso em nome de todos os professores, para os alunos, os pais, a direção e supervisora de ensino(!!!!)!

Resultado: me sai muito bem e fui bastante aplaudido. Mas o que me deixou mais feliz foi vários alunos terem vindo elogiar o meu discurso! Falo isso não para me gabar, mas para ver uma luz no fim do túnel, na certeza de que nem tudo está perdido! rs

Quero compartilhar esse discurso com vocês!

Espero que gostem!

Beijos,

O DISCURSO

Excelentíssimas autoridades, Sra. Diretora em exercício da Escola Estadual XXXXXX, Sra. Vice-diretora, Sra. Supervisora de Ensino, Sras. Coordenadoras, caros colegas professores, prezados pais e convidados, queridos alunos, soldado XXX, bom dia!

Num mundo de valores tão estranhos, tão conturbados e tão corrompidos, a escola deixa de ser espaço apenas para o aprendizado de conceitos e teorias, e torna-se também o refúgio para a assimilação da vida. Uma escola não é só feita de tijolos, mas de seres humanos, com valores humanos, que se ajudam, que se apóiam, que vivem conflitos, dilemas, problemas, e que, juntos, muitas vezes encontram soluções. É no espaço escolar que se estabelecem os primeiros laços sociais, a primeira vivência social... é aqui que, na gíria dos alunos, o “bicho pega!”.

E como esse espaço é feito de pessoas - pessoas que chegam e que partem e que, por muitas vezes, passarão anos da sua vida aqui, pessoas com valores tão distintos -, a nossa escola no século XXI, se vê na necessidade de alianças entre nós e a comunidade, num esforço cooperativo para resistir a problemas que assolam a sociedade que aí está. Nesse sentido, o PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas) vem reforçar o nosso objetivo e a nossa meta: manter o maior número de nossos adolescentes longe desse estranho mundo que nos devora e nos consome, tratando do tema de forma clara, objetiva, sem preconceitos, desenvolvendo neles a auto-estima, ensinando técnicas de resistência às pressões dos companheiros que casualmente podem incentivar o uso das drogas e estas à violência.

O projeto, como um todo, organizado aqui pela Polícia Militar, superou nossas expectativas, sobretudo no que diz respeito ao trabalho do soldado XXX, pois além de conscientizar as crianças sobre a saúde, ele buscou aprimorar os sentimentos de auto-estima, de valorização da vida, da família, dos amigos, da escola e da sociedade como um todo. Ele realizou todo o projeto com desenvoltura e consciência cidadã, além de efetuar atividades criativas, respeitando sempre a individualidade dos nossos alunos.

No entanto, o trabalho aqui feito nesse primeiro bimestre não depende apenas de nós, escola, ou do PROERD e seus instrutores, vai além dessas duas esferas, está sujeito a uma outra, que deveria ser sempre a mais presente e a mais atuante: a família. Pais, mães, padrastos, madrastas, avós, tios, tias, vizinhos, enfim, a rede social onde crescem nossas crianças e adolescentes, onde eles se refugiam para dormirem, brincarem, falarem besteiras, fazerem artes, praticarem esportes, passarem as horas mais importantes das suas vidas, isto a que chamamos família é também o que damos o nome de lar. Quando falta o lar, eles com certeza buscarão a tranqüilidade desse refúgio num lugar à margem da nossa sociedade. Depois de lá estarem, querer que eles voltem a construir os alicerces de uma casa fica muito mais difícil. E se para uns fica apenas a tarefa de apontar e dizer que “são vagabundos, não prestam ou não valem nada” a outros caberá a pergunta “onde foi que eu errei?”. Antes que isso aconteça, cabe a todos fazer suas devidas partes.

Nós, da Escola Estadual XXXXXX, juntamente com a equipe do PROERD, temos a certeza que nestes últimos meses fizemos o melhor que poderíamos, cumprindo nossa parte. Sabemos também que é apenas o início de uma longa jornada e que não devemos jamais parar por aqui. O dia de hoje é apenas um marco na vida de todos aqui presentes: a nós por incentivar a continuar no nosso trabalho com a garantia de que todos vocês estão confiando na gente; à vocês, alunos, por contribuir a que permaneçam no caminho consciente e saudável que começaram a trilhar.

Termino esse discurso com um pensamento de um outro professor, que viveu na Grécia há 2500 anos, cujo nome era Pitágoras, e deixou a nós, adultos, um pensamento bastante atual que nos faz refletir como cidadãos, onde somos tão responsáveis pelo futuro como nossos jovens: “Eduquem as crianças, e não será preciso castigar os homens”.

Muito obrigado!

3 comentários:

Anônimo disse...

Abobrinhas, sim! Abobrinhas, sim, caro professor!!! Quanta coragem e força!!! É por isso que eu te admiro tanto, não só pelos motivos mais óbvios, mas principalmente pela criatura e pelo profissional que tu és!!!
Muita força nesta trajetória que, apesar de inicial, já é muito bonita!!!
Aquele abraço,
Vinnie

Carol Marques disse...

Nilton, vc realmente consegue nos transportar p/ o cenário que vc descreve.... adorei esse texto!!!
Muitos docentes deveriam se espelhar em ti.
Parabéns, admiro-te muito,
B*jus na alma,
Carol Marques

Anônimo disse...

gostei do que li,
gostei do que senti.

abração ...

epifaniasdeumenino.blogspot.com