segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um dia de domingo...

Há dez anos atrás, eu prestava pela primeira vez a famigerada FUVEST - a prova para entrar na USP. Nem sabia o que era, mas prestei. O curso era de Rádio e TV. Fui barrado de primeira. Um ano depois, em 1999, o curso que havia prestado tinha se fundido ao de Cinema e Vídeo, tornando-se o de Audiovisual. Meus interesses também haviam mudado: dessa vez eu prestaria História, pensando em fazer, depois, Jornalismo. Na ocasião, a primeira fase era dividida em duas etapas, com oitenta questões em cada, além da segunda fase Ingressei na universidade e me formei na turma dos 70 anos da USP.

Quatro anos depois de formado, após ter trabalhado na "Folha de S.Paulo" e na sala de aula, volto a prestar a FUVEST. Não, não para Jornalismo como lá atrás havia pensado fazer, mas sim Pedagogia (a prova mudou e os ideais também!). Hoje, a primeira fase resume-se em noventa questões prestada em um dia e depois a segunda fase. Conferi o gabarito há pouco e acertei metade da prova. Nada mal para quem há dez anos não vê biológicas e exatas, porém o que me incomodou foram os erros idiotas na área de Humanas, sobretudo na de História - Não dizem que na casa do ferreiro, o espeto é de pau? Eu tinha uma professora excelente na USP que dizia que se ela prestasse FUVEST, ela não passaria. Devo reconfortar-me nas suas palavras.
É quase certo que tenha passado para a segunda fase (embora sempre haja um friozinho na barriga!), não numa margem tão boa como imaginava, mas passei. Agora tenho que me garantir nas dissertativas, onde, modéstia à parte, tenho mais facilidade. A segunda fase é quase como começar do zero... então, bola pra frente!

Acabei a noite vendo um belíssimo show de Elba Ramalho chamado “Qual o assunto que mais lhe interessa?”, no teatro FECAP, na Liberdade, aqui em São Paulo. Primeiro show em que minha mãe foi! Levei ainda o Vinícius e a Janaína. Sentamos todos no gargarejo!

Do show: foram quase três horas, contando com a participação especial e surpresa de Chico César. Lindo momento! A temporada deixa São Paulo depois de dois finais de semana (fui nos dois!!!) com aquele gostinho de “quando será que volta?”.

Dia cheio, cheio de vida e de expectativa.
Retomo o blog e espero que dessa vez seja com força.
Nilton Serra

domingo, 20 de julho de 2008

POOORRAAAAAA!!!! DERCY TÁ POR AÍ!

Quando eu era criança, uma senhora (ela já era bem se-nhora) aparecia na TV falando um monte de palavrões e aqui em casa todos a recriminavam em tom de deboche, mas ninguém mudava de canal. E, às vezes, mudando de canal, quando ela aparecia em qualquer uma das sete emissoras que existiam, ali o dedo parava de apertar os botões e a família ria com os impropérios ditos em época de abertura democrática brasileira. Dizer "bunda" nesses tempos era ainda considerado um escândalo e o que ela falava podia levar, poucos anos antes, a emissora a sair do ar. Hoje, olhando o passado, essa senhora chamada Dercy Gonçalves era o alter-ego da sociedade brasileira, falando palavrões que ficaram engasgados na garganta do povo durante as duas décadas de censura.

Dercy Gonçalves viveu mais de 100 anos. Ela é de um tempo em que diversão para as massas estava começando a existir. Viu e viveu todo advento da tecnologia e foi capaz, ainda lúcida, de participar da primeira transmissão em HD do SBT (emissora com quem tinha contrato vitalício) num dos quadros do programa Sílvio Santos que, diga-se de passagem, a adorava. Viu e viveu toda a política brasileira que se alternou entre democracias e ditaduras. Aliás, quando nasceu, nem as mulheres podiam votar e as atrizes eram consideradas prostitutas.

Com mais de 90 anos, Dercy colocou os seios pra fora e desfilou por toda a Marquês de Sapucaí. Encarei aquele gesto acidental (pois a culpa foi do vestido que conforme ela levantava os braços, os seios tentavam escapar) como uma feroz crítica: por um lado, àquelas meninas com o corpo escultural que dançavam nuas; por outro, que “esse negócio de idade não existe”, como tantas vezes a própria Dercy falou.

Tivesse ela nascido nos Estados Unidos, colocaria Madonna no chinelo e seria assunto para as mais desenfreadas feministas. Tivesse ela nascido lá, não teria sido Dercy Gonçalves. Dercy era o retrato fiel do povo brasileiro: contraditório e coerente, lúcido e alienado, desbocado e recatado, religioso e ateu, popular e elitizado, colonizador e colonizado, alegre e melancólico.

Esta senhora foi extremamente homenageada em vida por diversas emissoras, pelas mais diversas gerações de humoristas, atores, atrizes de rádio, de cinema, de teatro e de televisão, apresentadores de programas e animadores de auditório. Todos são categóricos em afirmar que ela serviu sempre como inspiração e tinham por esta senhora desbocada um profundo respeito.

Ary Fontoura disse hoje na Globo News que Dercy inventou o palavrão carinhoso. Dercy inventou mais! Foi a precursora, sem saber, do Rock’n Roll, cuspindo na platéia, dizendo que os jovens tem o direito de errar (quantas pessoas pensam assim?), jogava a bengala como um metaleiro quebra a guitarra e, convicta, aos 102 anos, dizia que seus palavrões não tinham nada demais: “palavrão não é Porra! Você veio de porra! Palavrão é fome!”. Também não seria demais afirmar que ela provavelmente foi o maior expoente do teatro do improviso no Brasil. Dercy era um gênio, pois sabia a pausa certa para colocar o palavrão e quando ele saia fazia todo mundo gargalhar.

Coloco aqui o link para dois vídeos e um de fotos de Dercy Gonçalves para os possíveis interessados:

Esta senhora foi um daqueles ícones que conheci criança e parecia que jamais iria morrer. Na tarde deste dia 19 de junho ela se foi. Quando contei pra minha mãe por telefone, ela fez uma pequena pausa e disse logo em seguida: “nossa, ela morreu!”. Espanto e compaixão eram percebidos na sua voz. Foi a mesma reação que eu vi com todos quando ficaram sabendo. Dercy sempre foi adorada!

Dercy não acreditava em Deus. Ou melhor, quando dizia Deus, se referia à Natureza. Não acreditava em vida após à morte, tinha a certeza de que sua energia apenas voltaria à natureza. Quando indagada se teria medo da morte, ela dizia: “Não tenho medo de morrer! Não tenho medo de viver!”. E Dercy Gonçalves viveu intensamente cada minuto de sua vida e escreveu seu nome na história da arte no Brasil.

Dercy não morreu, viverá pra sempre por aí. Pooorraaaa!!!!

Nilton Serra

sábado, 19 de julho de 2008

Ná Ozzetti canta Carmen Miranda

A partir deste mês, a cantora paulistana Ná Ozzetti começa a turnê do seu novo show "Ná Ozzetti canta Carmen Miranda". Os shows começaram por Curitiba e seguem por Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo.

Homenagear a luso-brasileira Carmen Miranda é prestar tributo a uma das principais intérpretes do país de todos os tempos, a artista brasileira mais reconhecida dentro e fora do país. E, conseqüentemente, uma homenagem a compositores importantíssimos das décadas de 30 a 50 e que tiveram sucessos com as gravações da “pequena notável”, como Ary Barroso, Assis Valente, Dorival Caymmi, Braguinha, Synval Silva e Custódio Mesquita. O espetáculo é composto por 18 canções, entre elas “Camisa Listrada”, “Ao voltar do samba”, “Recenseamento”, “Touradas de Madrid”, “O que é que a baiana tem?”, e “Na batucada da vida”, esta gravada por Ná no CD “Show”.


Junto com ela estarão os músicos:

Dante Ozzetti - violão
Mário Manga - guitarra, violão tenor e violoncelo
Sérgio Reze - bateria
Zé Alecandre Carvalho - contrabaixo




. 17, 18, 19 e 20 de julho
Teatro da Caixa, Curitiba, Paraná
Endereço: Rua Conselheiro Laurindo, 280
Edifício Sede II da CAIXA – Recepção: (41) 2118-5111

. 25 e 26 de julho
Teatro da Caixa, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Endereço: Av Almirante Barroso, 25 - Centro, Rio de Janeiro

. 1, 2 e 3 de agosto
Teatro da Caixa, Brasília, Distrito Federal
Endereço: SBS Qd 4 lotes 3/4, anexo do edifício Matriz da Caixa, Bilheteria: (61) 3206-6456

. 21, 22, 23 e 24 de agosto
. 28, 29, 30 e 31 de agosto
Teatro Fecap, São Paulo, São Paulo
Compra de ingressos: http://www.teatrofecap.com.br/
Endereço: Av. Liberdade, 532 (próximo da estação Metrô Liberdade), 0800 551902

Eu já garanti os meus ingressos.
Corram atrás dos seus!!!
Nilton

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Brincadeira no Photoshop

Enquanto o filme baseado no livro de José Saramago não chega, eu brinco com o pôster de Ensaio sobre a Cegueira para controlar a ansiedade! rs















Tô ficando bom na coisa, não?! rs

Nilton

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Um dia como representante dos docentes.

Vejam a responsa que é lecionar:

No sábado foi a formatura do grupo do PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência) lá na escola em que sou professor. Trocando em miúdos, a coisa consistia em 100 alunos (faltaram 60 alunos) das quatro sextas séries do colégio em receberem um diploma pelas dez aulas que foram ministradas por um soldado da Polícia Militar que conscientizava sobre os problemas das drogas, falando desde sua ação no organismo até problemas sociais.

Assisti a algumas aulas, e de fato, o cara mandava muito bem, sem preconceitos e churumelas!

Então, no sábado foi a formatura desses alunos, e eu fui escolhido pra representar os docentes. De última hora, escalado para, com meu terninho e um microfone na mão (tremo de lembrar! rs), fazer um discurso em nome de todos os professores, para os alunos, os pais, a direção e supervisora de ensino(!!!!)!

Resultado: me sai muito bem e fui bastante aplaudido. Mas o que me deixou mais feliz foi vários alunos terem vindo elogiar o meu discurso! Falo isso não para me gabar, mas para ver uma luz no fim do túnel, na certeza de que nem tudo está perdido! rs

Quero compartilhar esse discurso com vocês!

Espero que gostem!

Beijos,

O DISCURSO

Excelentíssimas autoridades, Sra. Diretora em exercício da Escola Estadual XXXXXX, Sra. Vice-diretora, Sra. Supervisora de Ensino, Sras. Coordenadoras, caros colegas professores, prezados pais e convidados, queridos alunos, soldado XXX, bom dia!

Num mundo de valores tão estranhos, tão conturbados e tão corrompidos, a escola deixa de ser espaço apenas para o aprendizado de conceitos e teorias, e torna-se também o refúgio para a assimilação da vida. Uma escola não é só feita de tijolos, mas de seres humanos, com valores humanos, que se ajudam, que se apóiam, que vivem conflitos, dilemas, problemas, e que, juntos, muitas vezes encontram soluções. É no espaço escolar que se estabelecem os primeiros laços sociais, a primeira vivência social... é aqui que, na gíria dos alunos, o “bicho pega!”.

E como esse espaço é feito de pessoas - pessoas que chegam e que partem e que, por muitas vezes, passarão anos da sua vida aqui, pessoas com valores tão distintos -, a nossa escola no século XXI, se vê na necessidade de alianças entre nós e a comunidade, num esforço cooperativo para resistir a problemas que assolam a sociedade que aí está. Nesse sentido, o PROERD (Programa Educacional de Resistência às Drogas) vem reforçar o nosso objetivo e a nossa meta: manter o maior número de nossos adolescentes longe desse estranho mundo que nos devora e nos consome, tratando do tema de forma clara, objetiva, sem preconceitos, desenvolvendo neles a auto-estima, ensinando técnicas de resistência às pressões dos companheiros que casualmente podem incentivar o uso das drogas e estas à violência.

O projeto, como um todo, organizado aqui pela Polícia Militar, superou nossas expectativas, sobretudo no que diz respeito ao trabalho do soldado XXX, pois além de conscientizar as crianças sobre a saúde, ele buscou aprimorar os sentimentos de auto-estima, de valorização da vida, da família, dos amigos, da escola e da sociedade como um todo. Ele realizou todo o projeto com desenvoltura e consciência cidadã, além de efetuar atividades criativas, respeitando sempre a individualidade dos nossos alunos.

No entanto, o trabalho aqui feito nesse primeiro bimestre não depende apenas de nós, escola, ou do PROERD e seus instrutores, vai além dessas duas esferas, está sujeito a uma outra, que deveria ser sempre a mais presente e a mais atuante: a família. Pais, mães, padrastos, madrastas, avós, tios, tias, vizinhos, enfim, a rede social onde crescem nossas crianças e adolescentes, onde eles se refugiam para dormirem, brincarem, falarem besteiras, fazerem artes, praticarem esportes, passarem as horas mais importantes das suas vidas, isto a que chamamos família é também o que damos o nome de lar. Quando falta o lar, eles com certeza buscarão a tranqüilidade desse refúgio num lugar à margem da nossa sociedade. Depois de lá estarem, querer que eles voltem a construir os alicerces de uma casa fica muito mais difícil. E se para uns fica apenas a tarefa de apontar e dizer que “são vagabundos, não prestam ou não valem nada” a outros caberá a pergunta “onde foi que eu errei?”. Antes que isso aconteça, cabe a todos fazer suas devidas partes.

Nós, da Escola Estadual XXXXXX, juntamente com a equipe do PROERD, temos a certeza que nestes últimos meses fizemos o melhor que poderíamos, cumprindo nossa parte. Sabemos também que é apenas o início de uma longa jornada e que não devemos jamais parar por aqui. O dia de hoje é apenas um marco na vida de todos aqui presentes: a nós por incentivar a continuar no nosso trabalho com a garantia de que todos vocês estão confiando na gente; à vocês, alunos, por contribuir a que permaneçam no caminho consciente e saudável que começaram a trilhar.

Termino esse discurso com um pensamento de um outro professor, que viveu na Grécia há 2500 anos, cujo nome era Pitágoras, e deixou a nós, adultos, um pensamento bastante atual que nos faz refletir como cidadãos, onde somos tão responsáveis pelo futuro como nossos jovens: “Eduquem as crianças, e não será preciso castigar os homens”.

Muito obrigado!

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Orgia no palco do Ibirapuera em Biscoito Fino

Certa vez, Janis Joplin, numa entrevista para o biógrafo David Dalton, comentou: “No palco eu faço amor com 25.000 pessoas, depois eu vou para casa sozinha”. Creio que a frase sirva para milhares de cantores famosos neste planetinha azul no canto da galáxia, levando em consideração as maravilhas que seus respectivos cantos fazem a nós, comuns mortais.

A partir desta semana já estão disponíveis nas lojas em todo o país o aguardadíssimo (pelos fãs) CD da Biscoito Fino Amigo é casa, parceria de Simone e Zélia Duncan - gravado nos dias 12 e 13 de outubro de 2007, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.

E o que ele representa? A orgia de duas grandes cantoras com seu público! Calma! Quando falo de orgia, falo do prazer imenso que vimos em Simone e Zélia de estarem naquele palco. Da emoção de centenas de fãs, de uma ou outra cantora, ou de ambas, de estarem ali testemunhando aquele momento tão raro em nossa música.

“Nunca a metade foi tão inteira”
O palco não foi dividido em dois, Simone pra lá, Zélia pra cá. O palco foi um só! O público também se uniu, com raríssimas exceções, pois se antes as pessoas torciam por uma ou outra, saíram encantados com as duas: Zélia por trazer para o seu repertório canções como a gigantesca e sensacional “A Companheira”, de Luiz Tatit, a emocionante “Cuide-se bem”, de Guilherme Arantes, a lúdica “Kitnet”, de Alzira E. e Arruda, e a esperançosa (!!!) “Na Próxima Encarnação”, de Itamar Assumpção, que dialoga com “Cigarra”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, homenageando a parceira-Diva.

Simone, por sua vez, resgatou pérolas do seu repertório como a contagiante “Diga lá meu coração”, de Gonzaguinha, a erótica “Medo de Amar nº 2”, de Sueli Costa e Tite de Lemos, a filosófica “Encontros e Despedidas”, de Milton Nascimento e Fernando Brant e a sensacional “Vou Ficar Nu Pra Chamar Sua Atenção”, de Roberto e Erasmo Carlos.

Na voz das duas, podemos escutar a arrebatadora “Alguém Cantando” e a esfuziante “Gatas Extraordinárias”, de Caetano Veloso (esta última ele compôs especialmente para a voz de Cássia Eller – homenageada pela Formiga e pela Cigarra neste trabalho), a impactante “Petúnia Resedá”, de Gonzaguinha, a criativa e singela “Grávida”, de Arnaldo Antunes e Marina Lima, a firme “Mãos Atadas”, de Simone Saback, a empolgante “Meu ego”, de Roberto e Erasmo Carlos, os sambas “Ralador”, de Roque Ferreira, e “Tô Voltando”, de Maurício Tapajós, ambos com parceria de Paulo César Pinheiro, e, por fim, o rock “Agito e Uso”, da inigualável Angela Ro Ro. Na minha opinião, a única que entrou a mais no disco foi “Idade do Céu”, de Jorge Drexler e Paulinho Moska. A mais, pois já havia sido trabalhada num molde muito semelhante no último CD de Simone. Nesse caso, acharia muito mais interessante “Mar e Lua”, de Chico Buarque, interpretada no show, mas que infelizmente não entrou no CD (mas estará no DVD!).

Como o CD, pode-se esperar o mesmo do DVD, que vem com mais cinco músicas e, onde, segundo fonte preciosa, a iluminação e o cenário ganharam mais força na TV.

“Há palavras, existem letras”
Muito já foi dito antes de conhecer o resultado final do CD/DVD Amigo é Casa. Muitos dos que falam criticando por criticar, não conhecem as múltiplas transformações de sucesso de Zélia Duncan ao longo de sua carreira (no máximo, sabem que ela é a cantora de “Catedral”), e outros acham que Simone sempre foi a cantora do massificado 25 de dezembro, desprezando sua importância na MPB. Vários críticos musicais encaixam-se nesta categoria. Outros, no entanto - no Orkut, em blogs etc. -, por não gostarem, chegam ao ponto de criticar o disco, questionando pejorativamente a sexualidade das cantoras. Sim, ainda há gente assim! Para não gostar, acredito que precisa ter fundamento: explicar por A+B o motivo pelo qual não gostou do recente trabalho. Abobrinhas não! Por favor, hein?! rs

Por outro lado, vários meios de comunicação estão fazendo um estardalhaço em torno do projeto. Críticos musicais, com fundamento, andam explicando o motivo de classificarem como bom ou excelente o atual trabalho de Simone e ZD. Cada qual ao seu modo. Aqui também, um crítico musical precisa falar o porquê gostou. E muitos, ainda bem, têm feito isso.

“Tô voltando”
Duas cantoras no mesmo palco, num universo tão feminino como é o da Música Popular Brasileira poderia representar mais do mesmo. No entanto, não quero estar errado, mas tal encontro resgata definitivamente Simone dos percalços encontrados na escolha do seu repertório em discos que atravessaram a década de 80 e 90, entrando em contato, agora, com compositores como Arnaldo Antunes, Luiz Tatit, Alzira E., Arruda, Simone Saback (que faz Simone apresentar seu lado “Cássia Eller”) e, óbviamente, Itamar Assumpção, sem perder suas raízes lembrando do seu pioneirismo e história de sucesso com releituras de composições de Gonzaguinha, Sueli Costa, Milton, Roberto, Erasmo etc, necessárias nesse trabalho para apresentar uma Simone linda e renovada como todos esperavam e torcem, com uma banda pra lá de atual, contando com a presença de músicos como Walter Villaça, Webster Santos, Léo Brandão, Ézio Filho, Jadna Zimmermann e Carlos César.

Por outro lado, o show apresenta a versátil Zélia Duncan como uma poderosa síntese dos atuais caminhos que passa a nossa canção. Um músico, senão estiver em constante renovação, buscando sempre melhorar, arriscando, aprendendo, errando, ele pára, estagna, e tudo que Duncan demonstra não querer é exatamente isso. E está conseguindo: vai do pop ao rock, do jazz ao samba, do folk ao mambo, do complexo ao simples. Faço plágio do atual e renovado sucesso de Ney Matogrosso, lembrando que um artista tem que ser inclassificável – até para criar confusão entre os críticos – e Zélia está sendo.

“O mundo, bola tão pequena”
Quando eu era criança, Simone fazia parte do meu universo, e passei a adolescência negando-a e curtindo-a (como já escrevi em outro momento neste blog), aí surgiu a Zélia na minha vida, num 1º de outubro de 2005 (como também já escrevi neste blog!). Corri atrás, me nutri, ingeri e vou degustando e deglutindo até minha razão e emoção permitirem.

Um dia, assistindo ao filme Closer – Perto demais, escutei uma música chamada “The Blower’s Daughter”, que abria a película. Adorei, fui atrás do cantor e descobri que se chamava Damien Rice. O cara nem tinha disco no Brasil. Esperei laçarem e na mesma semana que chegou nas lojas, ansioso, comprei! Mesmo sem compreender inglês, o disco todo me tocou profundamente.

Num dia - nem lembro como - descubro que Zélia Duncan não só conhecia o disco como tinha feito a versão para a música de Closer e quem cantaria seria justamente Simone. Não sou fã de versões, mas o fato em si mexeu comigo: as duas cantoras que eu admirava estavam juntas! Uau! A partir daí, para resumir, Zélia participou do disco da Simone, fizeram os dois shows do Tom Acústico em Sampa e no Rio (que infelizmente eu não pude ver nenhum dos dois), até chegar o dia 12 e 13 de outubro de 2007!

Lembro-me que no dia em que foi confirmada aquela história dos shows - que já rolavam os burburinhos entre os fãs – quase tive um treco e pensei: nesse eu vou! Convenci o Vinícius a irmos aos dois dias. Não foi difícil, era só fazer uma carinha de pidão que ele aceitou na boa (rs). E eu fui! Vi, ouvi e vivi cada segundo daquela poesia especial e mágica, simples e encantadora. De sobra, ainda ganhei um abraço muito forte da Zélia e um beijo da Simone. Não tinha forma melhor para acabar o fim de semana. Passamos, Janaína, Vinícius e eu, a madrugada encalacrados numa pizzaria perto da Av. Paulista, pois sem condução, não tínhamos como voltar para casa. E sonhamos acordado o que tínhamos vivido naquela noite de primavera escutando as vozes de duas pessoas cantando nesse planetinha azul, nessa imensidão.

Naqueles dias, contrariando Janis Joplin, nós, e com certeza, Zélia Duncan e Simone não voltamos sozinhos para casa, pois algo especial e inexplicável aconteceu, mas só quem esteve lá pôde constatar...

Nilton

PS: Agradeço à ajuda que o Vinícius deu em algumas questões técnicas do texto :-p

As fotos são de divulgação da Biscoito Fino.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Seria a Dindinha prima da Sininho?

Mesmo com as cortinas fechadas, a boca do palco do Teatro Paulo Autran, no SESC Pinheiros, neste último domingo, dia 27 de janeiro, dava sinais do que seria o cenário e o clima do show Achou! de Ceumar e Dante Ozzetti que faria a segunda apresentação do CD com o mesmo nome neste ano. No chão, estavam espelhadas inúmeras folhas secas. Nenhuma referência explícita à música de Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito, mas é impossível não fazer uma analogia, ainda mais em tempos de Carnaval e... Bom, eu fiz! rs

Ao abrir o pano, começou um passeio musical pelo violão de Dante junto a voz inigualável de Ceumar. As folhas se espalhavam por todos os lados cuja energia era um convite a um passeio para se subir este morro musical, queimando-se ao sol e acabando-se ao lado do violão, de Dante é claro!

Os dois estavam acompanhados (muito bem acompanhados, diga-se de passagem), de Webster Santos (violão), Du Moreira (baixo), Sérgio Reze (bateria) e Milton Mori (cavaquinho). A linda iluminação ficou por conta de Marisa Bentivegna e a direção do espetáculo foi de Marcelo Romagnoli. Tudo devidamente registrado pelas lentes da TV Sesc e em breve o show estará sendo transmitido para todo o país pelo canal.

A intérprete e o compositor trabalharam o repertório do disco recente: Pra lá, Partidão, Achou!, Alguém Total, Alto Mar, Parei Querer, Parte B, Saia Azul, Visões, A Tardinha, Praga e Lenha na Quentura. Ainda nos presentearam com Vou Voltar, Dindinha e a inédita Ciranda. Não, Folhas Secas não entrou no repertório, mas na minha imaginação foi referência, pois fui me acabando no show.

Não conseguiria criticar nenhum show com o rigor que uma crítica musical necessita (nem tenho muita paciência para isso), mas vou falar sobre aquilo que senti, pois creio ser a experiência sensorial o impulso primordial que o show desse pessoal tenta conduzir na relação deles com a platéia. Mas antes, só para não fugir à regra, dou a este espetáculo todas as estrelas do universo.

Conheci Ceumar muito antes de Dante
e confesso que o show, para mim (e me perdoe o Dante se algum dia ler isso), é ela. Ela me arrebataria cantarolando um simples “laralará”, mas é claro que com a letra e o arranjo bem construídos de Ozzetti e seus parceiros tornam Ceumar ainda mais irresistível. Ontem, ao sair do show, o Vinícius comentou comigo que ela era uma fadinha. Perfeita lembrança. A Dindinha deve ser prima da Sininho, do Peter Pan, vinda diretamente da Terra do Nunca, pois não consigo encontrar palavra melhor pra lembrar a sua interpretação no palco com toda a simplicidade, a ingenuidade, a leveza e a brejeirice dela e da sua voz aliados aos seus movimentos, fazendo-nos sentir que a qualquer momento ela vai sair voando pelo teatro... ou melhor, ela nos faz sair flutuando da poltrona como se na gente tivesse jogado pó de pirlimpimpim. (Tem que ter um tijolo no lugar do coração quem assistir um show desses e ficar imune, sem sorrir ao término da cantoria).

De repente, penso nessas estrelas da moda, cuja música toca de cinco em cinco minutos no rádio, que não tiram o rosto da TV, cuja a produção vale uma fortuna e para você conseguir sentir alguma coisa no show a luz tem que explodir na sua cara e o som tem que estar nas alturas... Em contrapartida, é tão bom encontrar pessoas como a Ceumar que fazem a sua arte com o que ela apenas precisa ter: qualidade.

2008 começou bem! Espero que a Dindinha continue voando nesse imenso jardim de folhas secas que é o planeta, fazendo nascer naquelas pessoas que entram em contato com a sua energia, flores, amores, esperanças, sorrisos, leveza e paz... Quanto a mim, sempre que com ela estiver em contato, eu vou me acabando...

PS: Peço desculpas pelo tempo que fico sem aparecer aqui e minhas promessas vazias de que dessa vez vou demorar menos. Hoje gostaria de ter escrito muito mais sobre a Ceumar, mas o cansaço não permite. 2008, como eu disse, começou bem e espero que seja um ano produtivo no que diz respeito a verborragia no teclado! rs

Até sempre!
Nilton

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Resta-me

Quero agora gritar,
mas me falta o som,
mas me falta o dom,
mas me falta o tom.

Quero agora me exibir,
mas me falta a imagem,
mas me falta a embalagem,
mas me falta a coragem.

Quero agora sair,
mas me falta a direção,
mas me falta a noção,
mas me falta a ação.

Quero agora o silêncio,
mas me falta a paz,
mas me falta o gás,
mas me falta o “aqui jaz”.

Resta-me querer esta poesia
pouca, rouca, mouca e louca.

Nilton Serra

domingo, 21 de outubro de 2007

Jura Secreta

Certa vez, numa conversa sobre MPB com uma amiga, a Fabiana Portela (fã incondicional de Maria Bethânia), eu disse que Simone, para mim, era como se fosse uma amante. Por quê? - perguntou ela, no que eu respondi: adoro, mas não assumo!

Durante muitos anos de minha vida, eu tive esse problema com relação à Cigarra. Sempre que dava, eu ia na loja, comprava seu lançamento e ouvia em casa ininterruptas vezes, mas na hora de dizer para um amigo sobre uma cantora que eu curtia, Simone nunca entrava na lista. Preconceito? Com certeza.

“SÉRÁÁÁ só imaginação?”
Simone sempre ficou atrelada a um tipo de música chamado de “mela-cueca”, devido seu caráter extremamente romântico e meloso - às vezes até erótico. Seu forte sotaque baiano, parecendo até forçado, ajudava na minha falta de coragem em assumí-la como uma das artistas de minha preferência.

No entanto, no último final de semana, tive a oportunidade de assistir aos dois dias de show Amigo é casa”, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, onde Simone e Zélia Duncan gravaram o CD e o DVD que em breve (torço por isso) sairão pela Biscoito Fino.

Cansei de dizer que iria no show por causa da Zélia, pois todos sabem o quanto eu admiro o seu trabalho, porém, no fundo, ia também por causa de Simone, pois nunca tinha visto a baiana ao vivo. Então assisti ao show. E que show!

Zélia dispensa comentários, mesmo porque, vindo de mim, seria redundância. Estava linda e com uma voz (e memória – sobretudo em “A Companheira”) afinadíssima. Mas e Simone? Bom, Simone estava um espetáculo à parte: voz, interpretação, roupa, corpo e esbanjando simpatia no palco, e nem precisou ficar nua pra chamar nossa atenção! risos

Vi muita gente entrando lá com uma idéia de Simone, e saindo com outra totalmente diferente. Isso se concretizou, para mim, na noite do dia 13 de outubro, quando ela foi ovacionada por mais de um minuto. O público levou a artista às lágrimas. Porém, depois do show, ainda sentia o preconceito resistindo no ar. Não acho que todos que estavam ali deviam ter saído adorando a Simone, porém, deviam respeitar (e muito) a artista que ela é e sua trajetória na nossa música -falo isso, pois ouvi alguns comentários nem um pouco agradáveis... bom, num país onde a cultura não é valorizada, não é de se admirar que há pessoas que entrem num show, sem nem querer saber um pouquinho da história de quem está ali no palco.

“Começar de novo”
No dia seguinte, coloquei pra tocar todos os discos antigos da Cigarra que eu tenho, e descobri uma Simone que nunca havia percebido. Pesquisei sobre os outros discos dela (antigos também) na internet, mas nada de conseguir comprar. Foi aí que entrei em contato com um moderador da comunidade da Simone e cogitei um abaixo-assinado sobre a sua discografia (parecidos com os que teve na comunidade da Maria Bethânia e que existe na do Ney Matogrosso, no orkut). Ele, então, mexeu seus pauzinhos e agora estamos na expectativa de boas notícias... SÉRÁ?

Simone e sua música, antes mesmo do disco “25 de Dezembro”, que vendeu mais de um milhão de cópias em um mês, em meados da década de 90, já fazia parte da minha trilha sonora. Mas só hoje sou capaz de dizer que sou um admirador dela e de suas interpretações. Talvez, porque, por mais que um disco grave e eternize a voz de um cantor, nada irá substituir a magia do palco, onde, no diálogo com o público, na descoberta (ou na redescoberta) de quem vê um artista ali em cima, de fato, qualquer preconceito vai por terra.

Se dêem a chance. Se dêem ao luxo.

Nilton

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Sem comentários...

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto"
Rui Barbosa, profetizando o Brasil de hoje.


"Uivemos, disse o cão"
José Saramago, Ensaio sobre a lucidez


...

sábado, 9 de junho de 2007

Dentro do arco-íris...

São Paulo realiza neste dia 10 de junho a sua 11º Parada do Orgulho GLBT, mais conhecida como Parada Gay. Nesta época de maior parada do mundo, a cidade veste as cores do arco-íris. Precisa ser muito insesível para não sentí-las.
Divulgo um texto de Luiz Caversan que saiu publicado hoje na Folha de S.Paulo. O texto fala por si só.

09/06/2007
Orgulho de ser o que é

Minha mãe não sabe, se soubesse ia chorar muito. Meu pai? Me mataria muito! Quer dizer, me mataria, porque matar é matar, muito ou pouco, não importa. Meu irmão desconfia, porque já tentou duas vezes dar em cima de amigas minhas e se deu mal, elas não estavam nem aí com ele. Já comigo...

Fui sempre assim, e tem gente que ainda fala que é uma "opção". Opção a gente opta, e eu nunca optei por gostar de mulher. Apenas gosto. E não gosto só de sacanagem, não, é gostar do carinho, do afeto, entende?, da alegria que elas têm e que eu tenho, da vontade de ficar juntas, da amizade e da solidariedade, do bom caráter, porque mau caráter pode ser gay, lésbica ou macho pacas que eu quero distância...

Meu pai e minha mãe, que são "normais", estão juntos há 40 anos e são absolutamente infelizes, de que adianta essa normalidade e esse estar certo hipócrita?

Se é assim, eu estou errada mesmo e pronto, dane-se.

Agora é mais fácil, as coisas evoluíram e embora ainda tenha muita gente ignorante que faz questão de não entender, de achar que é pura promiscuidade e malandragem, muitas outras pessoas entendem ou pelo menos nos aceitam. A mim têm que aceitar mesmo, porque eu sou independente, bem sucedida profissionalmente e, modéstia à parte, muito bonita --você não acha?

Não sou masculinizada, ao contrário me considero bem feminina, mas tenho amigas tipo "caminhoneira" que no fundo são uns doces, assim como há muito homem bruto pra fora e extremamente sensível por dentro. Mas essas amigas tipo "mulher macho" também não são assim porque querem, são porque são, oras. Exageros? Claro que tem exagero. Quanto tempo essas moças foram reprimidas, hostilizadas, segregadas? No fundo tentam compensar anos e anos de preconceito. Mas o que você tem a dizer sobre esses caras tipo pitboys, bombados e tatuados? E as peruas botocadas e vestidas com grife dos pés à cabeça e que dão em cima de garotões nos bares da vida? Não são exageradas também?

Meu caro, a vida é curta, curta a vida, viva e deixe viver, como se dizia na Bahia anos atrás. Vai amanhã lá na Pagada Gay pra ver que lindo. Serão milhares de pessoas exibindo sua alegria de viver --e otras cositas más, mas e daí, os heteros não exibem quase tudo no Carnaval e na praia e ninguém não está nem aí?

Ficar chocado não vai ajudar a entender.

Aliás, não há muito o que entender, porque o processo de entendimento está em pleno processo, sacou?

E o mais importante agora é a consciência de a gente ser o que é e, ao invés de vergonha, ter orgulho de ser. Tenho orgulho de ser uma homossexual feminina e acho sinceramente que se os homens heteros tivessem orgulho de serem assim e as mulheres também, esse mundo seria muito, muito melhor.

(Depoimento de uma amiga linda e absolutamente resolvida, que veio a São Paulo para, com muito orgulho, participar da Parada Gay)


Luiz Caversan, 50, é jornalista. Foi repórter especial, diretor da Sucursal do Rio da Folha e editor do caderno TV Folha. Escreve crônicas sobre cultura, política e comportamento aos sábados para a Folha Online. Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult513u303107.shtml

terça-feira, 5 de junho de 2007

O mundo Pré-pós-tudo de Zélia Duncan... e meu também!


Domingo, 03 de junho de 2007, SESC Pinheiros.

Pela quarta vez, acompanhei um show da turnê Pré-pós-tudo-bossa-band, de Zélia Duncan. Dessa vez, eu fui assistir, com um sabor diferente, o lançamento do DVD homônimo. DVD este, gravado e acompanhado por mim, também aqui em São Paulo, em outro teatro, o do Auditório Ibirapuera, dia 18 de novembro de 2006.

Zélia Duncan apareceu na minha vida há cerca de dois anos. Antes, eu já havia escutado falar nela, cantado seus sucessos radiofônicos "Catedral", "Alma", "Enquanto durmo" etc., porém, nunca tinha parado para escutar suas idéias através das músicas e, tampouco, me lembro de ter acompanhado uma matéria sobre sua carreira, seja no rádio, tv, revistas ou jornais.

Há dois anos, no entanto, a cantora revelou-se para mim numa entrevista concedida para o extinto programa "Dois a um", apresentado por Mônica Waldvogel, em que ela divida a bancada com Ney Matogrosso. Fui atrás de Ney e encontrei Zélia. No dia seguinte, estupefato com aquela artista que, durante vários momentos disse exatamente o que eu pensava e sentia na época, me levou a buscar seus discos, escutá-los, ouvir o que ela tinha para dizer.

O cd que me caiu nas mãos de cara foi o Eu me transformo em outras - o sexto trabalho da carreira, que havia começado como Zélia Cristina, e que, agora, bancado pela própria artista, multifacetava seu repertório, resgatando canções da década de 30, 40 e 50, mesclando-as a compositores contemporâneos, como Luiz Tatit, Tom Zé e Itamar Assumpção. O disco, na minha opinião, é um clássico. Me arrebatou imediatamente.

Porém, este não era mais seu disco de trabalho. Na ocasião, ela já estava mergulhada no projeto Pré-pós-tudo-bossa-band. Vinha para São Paulo para divulgá-lo e lá estava eu na fila do ingresso da casa de shows Tom Brasil, já tendo comprado todos os discos da carreira em apenas um mês. Estava tendo overdose de Zélia Duncan, como se nesse pequeno espaço de tempo, eu pudesse resgatar o espaço de quase 25 anos de carreira dela, perdidos nos meus quase 25 de idade.

O Show, como o cd, foi também arrebatador. Numa linguagem moderna, num visual onde, apesar das cores fortes, possuía um ar meio dark, com um repertório que mesclava a sensação de sentar e pensar com a de levantar e pular, e gritar, o show se fazia. Durante esses quase dois anos da turnê, o show ainda se faz.

Como se não bastasse tudo, Zélia, como diz quase todos os seus admiradores, é a cantora mais fofa do universo, com uma simpatia impar, capaz de amolecer os corações mais duros. Ela joga com todo o potencial: inteligência, sensualidade, bom humor, mas essencialmente demonstra paixão pelo que faz.

Hoje, quase dois anos depois, acredito que sou incapaz de fazer uma crítica da sua obra sem ser imparcial. Estou mergulhado com a alma no seu trabalho. Se me perguntarem isso ou aquilo dela, digo que é ótimo e ponto final. Sua obra me completa. Foi Zélia que me apresentou Itamar Assumpção e me levou a conhecer melhor a obra de Ná Ozzetti, Alzira Espíndola, Alice Ruiz, Paulo Leminski, Luiz Tatit, Zé Miguel Wisnik etc.. Foi Zélia que me aproximou de uma das minhas melhores amigas, a Karina, e me fez conhecer um outro tanto de gente muito bacana que curte e respeita muito sua obra. Foi com Zélia que surgiu uma outra grande paixão na minha vida, a maior de todas, made in Rio, que me ajudou, inclusive, a entender melhor seu trabalho. Foi com Zélia que me transmutei em outros, me transbordei em outros e me transformei em outros. E com ela também me tornei um mutante, quando, a despeito de tudo e de todos, ela me mostrou que ousar é necessário.

Seu DVD Pré Pós Tudo Bossa Band - O Show sai financiado pelo seu selo, Duncan Discos - criado na época do Eu me transformo. É um show lindo, com participação de Hamilton de Holanda e Anelis Assumpção, que vem sendo hiper bem recebido pela crítica e pelo público. Mais um clássico pop que, tenho certeza, como todo clássico, será louvado daqui a algumas gerações.

Enfim, se você que ler isto ainda não conhece Zélia Duncan, vá atrás. Dispa-se dos preconceitos dos sucessos radiofônicos. Zélia Duncan é muito mais que um ou dois sucessos. É um exemplo do que é fazer arte no mundo pré-pós-tudo.

Depois que Vinícius e eu dissemos que estávamos presentes na gravação do DVD, ela intuiu nossa história e minha história com ela e escreveu: "Esse é nosso!". Talvez seja mesmo...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Às favas, a lousa e o giz.

Existe uma campanha do CPP (Centro de Professorado Paulista), um dos sindicatos dos professores do Estado de São Paulo, dizendo “Educação tem cura, consulte um professor!”. Acho a idéia da campanha inteligente, afinal, elevam a figura do professor, porém, conhecendo o monstro por dentro, vejo que as coisas não são bem assim.

Para quem não sabe, sou professor de História e há mais de um ano leciono na mesma escola estadual de São Paulo. Até aí, tudo bem! Quer dizer, mais ou menos, afinal, será esse um tema recorrente nesse blog, pois problemas sobram...

Todos sabemos que a educação do Estado de São Paulo (e de todo o Brasil), vai muito mal dos braços – as pernas já foram amputadas – e as alternativas para que isso mude, não existem. Pelo menos nunca ouvi falar. A não ser palpites, pois todos adoram meter o bedelho na educação, como se fosse uma feira livre, onde se aperta o pepino e sabe-se da qualidade do produto. Se da parte do governo, o pepino, digo, esse sistema educacional em que caminhamos é o mais correto, da parte dos professores, esse sistema necessita ser transformado. Pois é, ai mora o engano: sistemas equivocados não se transformam, sistemas equivocados precisam ser destruídos. Substituídos por outros?! Sim. Um mais correto e mais humano. A mais, professores acabam sendo moscas num prato de sopa, se debatendo para não morrerem afogados, ao mesmo tempo em que acreditam estarem se alimentando do prato em que estão mergulhados, deslumbrando-se com alegrias efêmeras.

Desculpem-me os otimistas, mas não existe aprendizagem de qualidade para turmas com 40 pessoas (quando não mais), numa sala de aula. Não existe educação de qualidade com pressão de todos os lados em cima do professor. Não existe educação escolar, quando a sociedade está destruída em todos os sentidos. Fora o salário e todo o resto de problemas... Pessimismo?! Não. Realismo. Compartilho da mesma idéia do Nobel de literatura José Saramago: “Não sou pessimista, o mundo que é péssimo!”.

Como se não bastasse tudo, a desunião entre os professores é uma coisa incômoda. A falsidade, então, chega às raias do insuportável. O chamado “leva-e-traz”, aquelas pessoas que vão de um canto para outro, contando, aumentando e inventando histórias dentro de uma escola, ainda mais fazendo parte do quadro de professores, é a coisa mais impensável para quem está de fora, afinal, a escola guarda, por pior que tudo esteja, uma certa aura de religiosidade, que, para quem está lá dentro, acabou transformando-se no pátio de uma reles seita. Tal comportamento repugnante por parte de certos professores, me fazem pensar que são doentes, ou caminham para isso, deixando Freud, se este estivesse vivo, perto da descoberta de uma nova psicanálise.

“Educação tem cura, consulte um professor”?! Acho melhor consultar outro profissional. O sistema em que se encontram os educadores – e aí eu me incluo, claro! – já não possibilita mais que acreditemos que a categoria saiba o que faz. Salve-se quem puder!!! Não creiamos mais que o que temos em nossas mãos é aquela beleza idealizada do tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles, onde se educava apenas quem queria e a relação entre os mestres se davam na base do diálogo. Hoje, isso não existe! Diálogo? Sobram apenas burocratas educacionais, ou seja, pessoas com diplomas, responsáveis por preencher papéis e mais papéis, prestando contas do desserviço feito à gerações e gerações para órgãos internos e externos de economia.

Desculpem-me o ar de desabafo, mas está na hora de percebermos que a crise está instalada em todos os âmbitos da sociedade, inclusive na área educacional, e não serão só campanhas que aumentaram a auto-estima do professor, mas uma mudança real que tem que começar no seio da nossa sociedade. Incompetentes, sempre haverá, eu sei. Mas estes, unidos a acomodados, fazem com que reine a mediocridade dentro das nossas instituições de ensino. Enquanto tal tempo não chega, com ares messiânicos termino esta breve verborragia, citando os versos de uma música que em outros tempos guiavam Chico Buarque e Maria Bethânia, incrivelmente atual: “A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando, essa vida!”.



Angeli, Folha de S.Paulo - 06 de março de 2007

Mais uma vez...

Cansado de criar blogs que nunca saem da primeira semana de postagens, resolvi fazer algo na internet: criar mais um blog!!! rs

Mas esse, diferente dos outros que dei vida, pretende ir mais além, tanto da primeira semana de criação, como do ideal dos demais. A diferença começa pelo nome "Abobrinhas, não". Inspirado no título da canção do eterno Itamar Assumpção e da interna Alice Ruiz, pretendo fazer desse espaço o meu lugar, dando uma resposta ao mundo que está cheio de abobrinhas. Aqui, não! - Quer dizer, de vez em quando, falemos abobrinhas, afinal, não sou de ferro!!! rs. Mas, convenhamos, está na hora de escutarmos também o agrião, a escarola, a rúcula, trocando em miúdos (ou seria em papoulas?), está na hora do diferente, do original, do anárquico, do inusitado, dos
outros mundos e dos universos paralelos.

Você gosta do que vê por aí?! Eu não. E se quiser, chega junto: Abobrinhas, não!
Nilton

Na foto, Alice Ruiz e Itamar Assumpção

Abobrinhas não
Itamar Assumpção e Alice Ruiz

Cansei de ouvir abobrinhas,
vou consultar escarolas
prefiro escutar salsinhas,
pedir consolo às papoulas
e às carambolas,
pedir um help ao repolho
indagar umas espigas,
aprender com pés de alho
ouvir dicas das urtigas
e dessas tulipas
um toque pro miosótis,
um palpite do alpiste
uma luz da flor de lótus,
pedir alento ao cipreste
e pra dama da noite,
pedir conselho à serralha
sugestão pro almeirão,
idéias para azaléias
opinião para o limão, pimentão
abobrinhas não